Ram está de volta: Dodge quer conquistar os “20 milhões” de fãs da NASCAR

Após anos — ou melhor, décadas — ouvindo promessas vazias de que um novo fabricante estava prestes a entrar no cenário da NASCAR, agora é oficial: a Dodge vai voltar.
Demorou apenas 13 anos para que a Stellantis — grupo que controla marcas como Fiat, Chrysler e Dodge — decidisse aceitar a proposta que a NASCAR vinha tentando vender há tanto tempo. Com isso, as caminhonetes Ram retornarão à NASCAR Craftsman Truck Series, e, posteriormente, a Dodge planeja voltar também à principal categoria da competição, a NASCAR Cup Series, com o objetivo de entreter, supostamente, 20 milhões de fãs “apaixonados” da NASCAR semanalmente.
Espere um pouco.
Vinte milhões?
Essa afirmação causou surpresa até mesmo entre os próprios envolvidos. De onde veio esse número?
Segundo matéria publicada pelo Sports Business Journal no domingo, a estimativa foi mencionada por Tim Kuniskis, CEO da Ram. Ele afirmou que a NASCAR possui 20 milhões de fãs assíduos. Destes, segundo ele, 50% — ou seja, 10 milhões — são compradores de caminhonetes. E, dentro desse grupo, cerca de 20%, ou 2 milhões de pessoas, já são clientes da Ram.
Ainda de acordo com Kuniskis, o retorno sobre investimento (ROI) para a Stellantis na NASCAR só faz sentido se a empresa conseguir aumentar essa base de fãs dos atuais 20 milhões para algo entre 80 e 100 milhões. E, segundo o executivo, já existe um plano traçado para alcançar esse objetivo.
O que chama a atenção é a discrepância entre essa estimativa e os dados de audiência reais. A maior audiência já registrada na história do Daytona 500 foi de 19,4 milhões de telespectadores, em 2006. Desde 2013, a prova não ultrapassa a marca de 15 milhões. Atualmente, a média de audiência das corridas da NASCAR Cup Series em rede aberta ou a cabo gira em torno de 3 milhões de espectadores.
Fica então a dúvida: será que os outros 17 milhões estão acompanhando as corridas por plataformas obscuras de streaming?
A referência aos “20 milhões de fãs” parece remeter a um velho hábito da era Brian France, ex-CEO e presidente da NASCAR nos anos 2000, durante o auge do esporte. Na época, France insistia em inflar os números da base de fãs da categoria, e repetia esse dado com frequência em entrevistas, como em uma concedida à NPR em 2004 — e ainda usada até 2012.
Agora, com a Ram voltando às pistas e a Dodge se preparando para regressar à elite da NASCAR, resta saber se o entusiasmo da Stellantis conseguirá, de fato, reacender o interesse popular na categoria. Por enquanto, o número de “20 milhões de fãs apaixonados” continua sendo, no mínimo, controverso — mas bastante útil em estratégias de marketing.