Guerra dos Chips: Ações da Samsung e SK Hynix Despencam em Meio à Disputa EUA-China

As gigantes sul-coreanas de semicondutores, Samsung Electronics e SK Hynix, viram o valor de suas ações despencar, apanhadas no fogo cruzado da guerra tecnológica entre os Estados Unidos e a China. A combinação de novas restrições americanas às operações na China e o avanço chinês no desenvolvimento de seus próprios chips de inteligência artificial (IA) abalou a confiança dos investidores, gerando perdas significativas no mercado.
Queda Brusca no Mercado de Ações
Na Bolsa de Valores da Coreia, a reação foi imediata e severa. As ações da SK Hynix fecharam com uma queda de 4,83%, enquanto os papéis da Samsung Electronics caíram 3,01%, retornando a patamares vistos pela última vez em julho. A forte liquidação foi impulsionada por investidores estrangeiros e institucionais, que venderam massivamente suas posições em ambas as empresas. Apenas na Samsung, a venda líquida por estrangeiros e instituições totalizou centenas de bilhões de wons. Para os pequenos investidores, o retorno ao “67º andar” (jargão local para a faixa de 67.000 wons) foi um duro golpe.
O Fim das Licenças Gerais para a China
O gatilho para essa turbulência foi um anúncio do Departamento de Comércio dos EUA. O governo americano removeu a Samsung e a SK Hynix do programa “Usuário Final Verificado” (VEU, na sigla em inglês), um status que lhes permitia importar equipamentos de fabricação de chips de origem americana para suas fábricas na China sem a necessidade de licenças individuais para cada item.
Anteriormente, com o status VEU, as empresas gozavam de uma espécie de “licença geral”, agilizando a modernização e manutenção de suas operações. Agora, com a revogação, que entrará em vigor após um período de carência de 120 dias, cada importação de equipamento exigirá uma aprovação caso a caso do governo dos EUA. Estima-se que essa medida gere cerca de mil novas solicitações de licença anualmente, criando um obstáculo burocrático que pode atrasar e limitar a produção das fábricas chinesas, que são vitais para a cadeia de suprimentos global. A fábrica da Samsung em Xian, por exemplo, responde por cerca de 35% de sua produção de NAND flash, enquanto a planta da SK Hynix em Wuxi produz aproximadamente 40% de seus DRAMs.
Avanço Chinês e a Ameaça à Nvidia
Somando-se à pressão regulatória, o mercado também reagiu à notícia de que gigantes da tecnologia chinesa estão acelerando o desenvolvimento de seus próprios chips. O Alibaba, um dos maiores clientes da Nvidia, anunciou que está desenvolvendo um chip ASIC (circuito integrado de aplicação específica) para IA, compatível com a plataforma CUDA da Nvidia. O objetivo é claro: reduzir a dependência de tecnologia estrangeira.
Essa movimentação, juntamente com os esforços de outras empresas chinesas para substituir os chips da Nvidia, fez soar o alarme em Wall Street. As ações da própria Nvidia, da Broadcom e de outras empresas listadas no Índice de Semicondutores da Filadélfia registraram quedas superiores a 3%. A notícia chega pouco depois de a Nvidia ter solicitado a seus fornecedores, incluindo a Samsung, que interrompessem a produção de componentes para seu chip H20, destinado à China, devido à pressão do governo chinês para que as empresas locais evitem seu uso.
Análise: Um Bumerangue para os EUA?
Apesar do pânico inicial, analistas do mercado financeiro sugerem que a estratégia americana pode ter um efeito bumerangue. A restrição à produção de memória na China pode levar a uma escassez global, elevando os preços. “Se a produção de memória for insuficiente no próximo ano, os preços podem subir”, explicou um especialista. “Os compradores finais, como as gigantes de tecnologia americanas, terão que pagar mais caro por esses componentes.” Essa pressão econômica vinda de empresas como Google, Amazon e Microsoft poderia forçar o governo dos EUA a reconsiderar a rigidez de sua política a longo prazo.
Quanto ao chip do Alibaba, a avaliação é que ele não representa uma ameaça direta à liderança da Nvidia. “O chip que o Alibaba está desenvolvendo parece ser um ASIC, semelhante ao que a Broadcom fabrica. Assim como um carro popular não pode substituir um sedã de luxo, um ASIC não pode substituir as GPUs de ponta da Nvidia”, comentou um analista. Ele acrescentou que, ao desenvolver um chip compatível com CUDA, o Alibaba sinaliza que pretende permanecer dentro do ecossistema tecnológico da Nvidia, e não abandoná-lo.