Uma Estreia Desastrosa

“Lá vamos nós” não é apenas a primeira fala do filme “Guerra dos Mundos” de 2025, disponível na Amazon Prime, mas também o pensamento inevitável ao decidir assistir à produção após uma avalanche de críticas negativas. Dirigido por Rich Lee, o longa é filmado exclusivamente através da perspectiva de chamadas de vídeo e câmeras de segurança, uma escolha de estilo que se mostra problemática desde o início. A premissa acompanha o analista de terrorismo doméstico William Radford, interpretado por Ice Cube, em sua missão para salvar sua família e o país de ciborgues alienígenas que têm um objetivo peculiar: consumir nossos dados, literalmente.
Crítica e Comparações Inevitáveis
À primeira vista, a classificação do filme no Rotten Tomatoes, que subiu de zero para três por cento desde a estreia, parece ao mesmo tempo um feito e algo previsível. Embora uma nota abaixo de cinco por cento seja difícil de alcançar, refazer um clássico como “A Guerra dos Mundos” de 1953, que ostenta 89% de aprovação, estabelece um padrão extremamente alto. Some a isso a tentativa de criar um filme de ação através das lentes de reuniões no Microsoft Teams e efeitos visuais de baixa qualidade, e o resultado é uma receita para o desastre, capaz de fazer até o espectador mais tolerante revirar os olhos.
Furos de Roteiro e Propaganda Tecnológica
Deixando de lado os gráficos e as questões de produção, como os rostos constantemente borrados, são os furos no roteiro baseados em tecnologia que beiram a propaganda e minam a suposta mensagem do filme sobre a importância da conexão humana. O exemplo mais gritante é a inconsistência na disponibilidade da tecnologia depois que os alienígenas, famintos por dados, destroem os satélites da Terra. Armas militares, sistemas de GPS em veículos e até o Facebook sofrem um colapso global. No entanto, poucas cenas depois e sem qualquer explicação, canais de notícias, satélites da Starlink, o X (antigo Twitter) e até as compras na Amazon continuam funcionando perfeitamente. Em outro momento absurdo, um drone da Prime Air consegue desviar de um cenário apocalíptico para entregar um pen drive que salvará o mundo.
Um Protagonista Invasivo
O personagem de Ice Cube utiliza seu acesso a ferramentas de vigilância do governo não para combater o terrorismo, mas principalmente para invadir a privacidade de seus dois filhos. Sua filha, Faith, é uma bióloga renomada que desenvolveu um “vírus canibal”. Mesmo com acesso a dados profundos de cada cidadão, Radford parece não ter ideia da profissão da filha. Em vez disso, ele usa seus poderes para escanear o conteúdo da geladeira dela e ligar para reclamar que ela não está comendo proteína suficiente. Depois de dar conselhos nutricionais, ele verifica o computador do filho e, ao ver que o jovem está jogando videogame, desinstala o jogo remotamente, afirmando que isso o ajudará a focar nos estudos.
Uma Invasão Sem Sentido
Grande parte do filme segue esse padrão, mesmo após o início da invasão alienígena: Ice Cube liga para os filhos, grita com eles e desliga. Sua missão oficial seria rastrear um hacker conhecido como “o Disruptor”, uma figura sombria que espalha teorias da conspiração sobre um banco de dados chamado “Golias”. No entanto, essa subtrama é rapidamente esquecida quando meteoros começam a cair por todo o mundo, sem que ninguém os tivesse detectado previamente. Os alienígenas emergem, e a reação de Radford, enquanto assiste a clipes de notícias que parecem filmagens genéricas, é um “caramba” seguido por um “ah, meu Deus” ainda menos convincente.