Descoberta de um Mundo “Fóssil” nas Fronteiras do Sistema Solar

Mistérios nos Confins do Sistema Solar
Mesmo com o avanço dos telescópios modernos, as regiões mais distantes do Sistema Solar permanecem envoltas em mistério. Nessas áreas, a luz do Sol mal chega e há indícios de que diversos objetos ainda não identificados podem estar ocultos nessas profundezas geladas.
O que se sabe até agora é que os corpos celestes encontrados nessas regiões remotas são extremamente antigos. Suas órbitas sugerem a presença de outros objetos desconhecidos, tornando o quebra-cabeça do Sistema Solar ainda mais complexo para os astrônomos.
Objetos Escondidos e Sinais Sutis
Enquanto alguns fenômenos celestes são facilmente reconhecidos por explosões luminosas ou rastros brilhantes no céu, os corpos que habitam os limites do Sistema Solar se revelam de forma discreta: um leve desvio na órbita de outro objeto, ou um tênue lampejo de luz quase invisível. Apesar de passarem despercebidos, esses objetos são fundamentais para desvendar a história da formação e evolução do Sistema Solar.
Indícios de um Nono Planeta
Há algum tempo, astrônomos suspeitam da existência de um nono planeta nas regiões mais afastadas do Sistema Solar. O hipotético “Planeta Nove” foi proposto como explicação para o agrupamento incomum das órbitas de um grupo de objetos distantes, conhecidos como Objetos Transnetunianos (TNOs).
Ammonite: Um Novo Sednoide é Encontrado
Pesquisadores que utilizam o Telescópio Subaru, no Havaí, anunciaram a descoberta de um novo objeto distante. Trata-se de um TNO que orbita o Sol além de Netuno, mas que também pertence a uma subclasse especial: os sednoides.
O novo sednoide, batizado oficialmente de 2023 KQ14, recebeu o apelido de Ammonite, em referência ao fóssil de cefalópode. Os sednoides têm órbitas ainda mais excêntricas que os TNOs, com trajetórias altamente alongadas, periélios distantes e grandes eixos semi-maiores. Apenas quatro desses objetos foram detectados até hoje, sendo Ammonite o mais recente.
Pesquisa e Observação
O estudo detalhando a descoberta foi publicado na revista Nature Astronomy, liderado por Ying-Tung Chen, do Instituto de Astronomia e Astrofísica da Academia Sinica, em Taipei, Taiwan. Ammonite foi identificado nas observações realizadas em março, maio e agosto de 2023, através do Telescópio Subaru. No entanto, para confirmar sua existência, foram necessárias observações adicionais em julho de 2024 com o Telescópio Canadá-França-Havaí, além de buscas em arquivos de outros observatórios. No total, os cientistas acompanharam a órbita de Ammonite durante 19 anos.
O Programa FOSSIL e a Origem de Ammonite
Ammonite foi detectado como parte do programa FOSSIL (Formation of the Outer Solar System: An Icy Legacy), que utiliza a avançada câmera HyperSuprimeCam do Subaru para mapear as populações de objetos nas extremidades do Sistema Solar.
Por meio de simulações numéricas, os pesquisadores concluíram que Ammonite mantém uma órbita estável há pelo menos 4,5 bilhões de anos, desde os primórdios do Sistema Solar. Embora sua órbita seja atualmente diferente dos outros sednoides, as simulações mostram que, há cerca de 4,2 bilhões de anos, todos eles compartilhavam trajetórias semelhantes.
Um dado curioso é que Ammonite ocupa uma lacuna ainda pouco compreendida na distribuição dos periélios dos objetos distantes do Sistema Solar.
Um Novo Mundo de 380 Quilômetros
A busca por objetos distantes começou a ganhar destaque em 2003, quando pesquisadores da NASA encontraram Sedna, então o objeto mais distante já observado no Sistema Solar, localizado a mais de 12,9 bilhões de quilômetros da Terra. Sedna, que leva o nome da deusa do mar dos Inuit, possui uma órbita extremamente alongada e propriedades semelhantes às dos corpos do Cinturão de Kuiper.
Teorias sugerem que Sedna se formou no início do Sistema Solar, com sua órbita alterada por encontros gravitacionais em um aglomerado estelar denso ou até mesmo por influência de estrelas próximas, como a passagem da estrela de Scholz há cerca de 70 mil anos.
Sedna inaugurou a categoria dos sednoides, objetos que desafiam explicações convencionais sobre suas órbitas, levantando hipóteses que vão desde marés galácticas até a influência do misterioso Planeta Nove.
Novas Descobertas e Avanço Científico
Com a descoberta de Ammonite, os cientistas dão mais um passo rumo à compreensão da dinâmica dos confins do Sistema Solar. A cada novo objeto catalogado, surgem pistas valiosas sobre a história e a evolução do nosso sistema planetário, tornando mais próximos os dias em que esses mistérios serão finalmente desvendados.